quarta-feira, 22 de abril de 2009

02/Maio

02/maio – Dia do Ex-Combatente

No começo da Segunda Guerra Mundial, em 1939, o Brasil manteve sua neutralidade, pois não apoiou nenhuma das grandes potências. Quase no final da guerra, porém, em razão de uma série de ataques aos navios mercantes brasileiros em nosso litoral, o Brasil reconheceu o estado de guerra com os países do Eixo e enviou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) à Europa, para colaborar na causa dos países aliados. O transporte do primeiro escalão da FEB com destino a Nápoles, Itália, ocorreu em 2 de julho de 1944.

A FEB foi incorporada ao V Exército aliado dos Estados Unidos e entrou em combate em 15 de setembro de 1944, participando de várias batalhas no vale do rio Pó, na Itália, que estava ocupado pelos alemães. As mais importantes foram a Tomada de Monte Castelo, a conquista de Montese e a Batalha de Colleccio. As tropas brasileiras perderam, durante essa campanha, 430 praças e 13 oficiais, além de oito oficiais da Força Aérea Brasileira, (FAB).

Com o final da guerra, em 6 de junho de 1945, o Ministério da Guerra do Brasil ordenou que as unidades da FEB se subordinassem ao comandante da Primeira Região Militar - (1a RM) sediada na cidade do Rio de Janeiro, o que significava a dissolução desse contingente.

Os antigos adversários ainda julgam que os expedicionários da FEB combateram na Itália para defender interesses americanos, sem desmerecerem, contudo, sua capacidade. A tenacidade dos pracinhas é elogiada até hoje. Eles são chamados de "oponentes honrados" visto que, quando renderam a Divisão Monterosa, em abril de 1945, prestaram honras militares aos soldados italianos que marcharam em direção ao cativeiro, ao impedirem que fossem sumariamente fuzilados por guerrilheiros. Existem menções ao bom tratamento dispensado pelos brasileiros aos inimigos capturados, em alguns livros publicados, na Itália, por antigos adversários da FEB.

As cinzas dos corpos de nossos heróis mortos no conflito foram transladadas de Pistola, Itália, para o Brasil e, hoje, repousa em jazigos de mármore, colocados no subsolo do Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, idealizado pelo Marechal João Baptista Mascarenhas de Moraescomandante da FEB, e inaugurado em 24/6/1960, no Parque do Flamengo. Constitui uma das mais belas obras do Rio de Janeiro, e que se acha inscrita a seguinte homenagem: "Imolando-se pela Pátria, adquiriram uma glória imortal e tiveram soberbo mausoléu, não na sepultura em que repousam, mas na lembrança sempre viva de seus feitos. Os homens ilustres têm como túmulo a terra inteira".

Brasileiros não reconhecem participação dos pracinhas na Segunda Guerra

O Brasil não soube reconhecer o sofrimento suportado pelos pracinhas durante a Segunda Guerra Mundial, tampouco o empenho por eles empreendido nas batalhas. O país também não deu voz para que os veteranos pudessem contar suas experiências.

A avaliação é do historiador Cesar Campiani Maximiano, que passou seis anos realizando entrevistas e coletando material sobre a experiência de guerra dos soldados brasileiros, que sobreviveram aos combates na Europa, entre 1944 e 1945.

Munidos de fuzis e do idealismo típico da juventude, cerca de 25 mil brasileiros embarcaram para as frentes de combate italianas e arriscaram suas vidas para derrubar os regimes nazi-fascista europeus. "Eles acreditavam que, lutando contra Hitler e Mussolini, dariam sua contribuição para a construção de um mundo melhor", explica Cesar, que defendeu tese de doutorado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFLCH) da USP.

Segundo o historiador, o reconhecimento reclamado pelos veteranos não são superproduções cinematográficas sobre a guerra nem grandes paradas militares - típicas dos norte-americanos. Cesar diz que os pracinhas gostariam apenas que a Força Expedicionária Brasileira (FEB) - nome que se deu à divisão de infantaria do Exército brasileiro enviada à Itália sob comando de Washington - fosse mais lembrada pela população e também melhor estudada nas escolas.

O esquecimento continua Cesar, ocorre principalmente porque os ex-combatentes da FEB não tiveram a oportunidade de relatar suas experiências de guerra. "Os veteranos não tiveram voz, provavelmente porque eram pessoas simples, em sua maioria trabalhadora e operária sem muito estudo, cuja opinião não costuma ser ouvida pela sociedade brasileira”, explica Cesar.

Lado humano da guerra


Um dos principais motivos que levaram Cesar a estudar o tema foi a pouca informação que se tem sobre a experiência e a vivência dos soldados brasileiros nas frentes italianas. Para ele, a história produzida sobre a participação do Brasil na guerra peca por ser desequilibrada - ou possui um caráter laudatório ou depreciativo.

Escutar o que os veteranos têm a dizer, segundo Cesar, foi um dos pontos mais complicados da pesquisa devido à dificuldade de comunicação que se impõe sobre pessoas que passaram por experiências completamente distintas. "É extremamente difícil para uma pessoa, que sempre viveu em situações de paz, entender o que um soldado sente durante a guerra."

Além disso, os veteranos costumam ser pessoas fechadas, que carregam consigo grande carga de recordações traumáticas. Dentre elas, o historiador enumera transtornos psicológicos chamados "neuroses de guerra" - que levaram muitos a cometerem suicídio após retornarem da Europa. A proximidade e a convivência com a morte também é uma das recordações mais lembradas pelos pracinhas.

"Eles matavam e viam gente morrendo o tempo todo. Muitas vezes também tinham que se alimentar e dormir ao lado de cadáveres. Essa situação brutalizava os soldados, tornando ainda mais complexa sua readaptação à sociedade", explica Cesar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário